Suécia critica saída dos EUA do Acordo de Paris e alerta para impactos da crise climática
Segundo o governo sueco, EUA podem enfrentar desafios econômicos por ficarem de fora desse processo
Internacional|Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

O governo sueco criticou a decisão dos Estados Unidos de deixar o Acordo de Paris, alertando que a medida enfraquece a posição do país no cenário internacional e compromete os esforços globais para conter a crise climática. No primeiro dia de seu novo governo, o presidente Donald Trump anunciou a retirada dos EUA do pacto ambiental, argumentando que as políticas de transição para uma economia verde prejudicam a economia americana. A decisão gerou forte reação na comunidade internacional, que vê o movimento como um retrocesso nos compromissos ambientais.
A saída dos Estados Unidos, maior economia mundial e segundo maior emissor de gases do efeito estufa, gera uma onda de preocupações entre cientistas, ambientalistas e governos estrangeiros, que veem a decisão como um enfraquecimento dos esforços globais contra o aquecimento global.
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Durante sua agem por Brasília para tratar da COP30, em almoço com jornalistas, o embaixador do clima da Suécia, Mattias Frumerie, expressou seu descontentamento com a medida, destacando os impactos negativos que a decisão pode ter não apenas para o planeta, mas para os próprios Estados Unidos. “Os EUA estão perdendo uma grande oportunidade”, alerta o embaixador sueco
Para Frumerie, a saída do país do Acordo de Paris não o fortalece, como defende o governo Trump, mas o deixa em desvantagem competitiva em relação ao resto do mundo. Segundo ele, enquanto outras nações avançam na transição energética e colhem os benefícios da economia verde, os EUA correm o risco de ficar para trás.
“Por mais que lamentemos a decisão de saída, também não conseguimos enxergar que isso seja em benefício deles. Enquanto o resto do mundo avança na transição climática, os Estados Unidos também poderiam colher os benefícios dessa transformação. Eles estão perdendo a oportunidade de fazer parte desse movimento, de garantir que a transição traga empregos ao seu povo”, afirmou Frumerie.
O diplomata enfatizou que a economia global já está se movendo para um modelo mais sustentável, e que os EUA podem enfrentar desafios econômicos por ficarem de fora desse processo.
“A transição verde já acontece nos Estados Unidos, onde companhias suecas, brasileiras e de outros países investem em novas tecnologias para a indústria e o setor energético. Hoje, a energia renovável já é mais barata do que os combustíveis fósseis em muitos casos. A partir de certo ponto, a equação econômica não vai mais se encaixar na abordagem adotada por Trump”, destacou o embaixador.
Além disso, Frumerie ressaltou que o setor financeiro americano também pode ser afetado. Grandes bancos dos EUA já começaram a abandonar alianças climáticas voltadas à neutralidade de emissões, como a Glasgow Financial Alliance for Net Zero, devido à falta de compromisso governamental com a pauta climática.
Queimadas, ondas de calor e desastres naturais aumentam no mundo
Segundo o embaixador, a decisão de Trump vem em um momento em que os impactos das mudanças climáticas se tornam cada vez mais evidentes. O ano de 2024 foi um dos mais quentes da história, com recordes de temperatura e eventos extremos atingindo diversas partes do mundo.
No Brasil, o aumento da temperatura tem provocado incêndios de grandes proporções no Cerrado, Pantanal e na Amazônia, comprometendo a biodiversidade e o equilíbrio climático. “As queimadas na Amazônia, por exemplo, estão em níveis alarmantes. Se continuarmos nesse ritmo, podemos chegar a um ponto de não retorno, onde a floresta não conseguirá mais se regenerar”, alertou Frumerie.
Nos Estados Unidos, incêndios florestais devastadores atingiram a Califórnia e outras regiões do oeste americano, destruindo comunidades inteiras. Na Europa, ondas de calor sem precedentes afetaram diversos países, resultando em mortes e colapsos no sistema de saúde.
“Estamos vivendo um período de emergência climática, e os impactos já estão sendo sentidos em escala global. Queimadas na Amazônia, incêndios na Califórnia, enchentes devastadoras e recordes de calor mostram que a crise climática não é algo do futuro, mas uma realidade presente. O mundo não pode se dar ao luxo de retroceder”, enfatizou o embaixador sueco.
Além dos impactos ambientais, Frumerie destacou os efeitos econômicos dos desastres climáticos. “Cada vez mais, vemos empresas sofrendo com perdas financeiras por conta das mudanças climáticas. O custo de reconstrução após incêndios, enchentes e tempestades é altíssimo, e muitas companhias já estão incorporando riscos climáticos em seus planejamentos financeiros”, disse.
Resistência interna nos EUA
Apesar da saída dos EUA do Acordo de Paris, a decisão não representa um consenso dentro do país. Em governos estaduais, prefeituras e grandes corporações, há um esforço para manter o compromisso com a transição verde.
Frumerie lembrou que, durante o primeiro governo de Trump (2017-2020), governadores, prefeitos e empresas americanas assumiram um protagonismo ambiental, mesmo sem o apoio do governo federal.
“Tivemos COPs onde governadores estaduais, legisladores e representantes da sociedade civil se fizeram presentes, destacando o compromisso de diferentes setores dos Estados Unidos com a transição ecológica. Esperamos um movimento semelhante agora”, afirmou o diplomata.
A Califórnia segue sendo um dos estados mais engajados na agenda ambiental, investindo em energia renovável, transporte sustentável e regulação de emissões de carbono. Outros estados democratas também devem seguir esse caminho, mantendo políticas locais alinhadas ao Acordo de Paris.
Além disso, setores da economia que já investiram fortemente em energia limpa podem resistir às mudanças propostas por Trump. O embaixador sueco acredita que o setor privado terá um papel fundamental para frear retrocessos.
“Os investimentos climáticos já beneficiaram diversos estados americanos, incluindo redutos republicanos. Revogar tudo isso pode ser mais difícil do que parece”, destacou Frumerie.
COP30 e o papel do Brasil na liderança climática
A retirada dos EUA do Acordo de Paris gera um vácuo de liderança no combate à crise climática, o que abre espaço para que outros países assumam protagonismo na pauta ambiental. A COP30, que será realizada no Brasil, pode se tornar um marco nesse sentido.
Durante sua visita a Brasília, Frumerie se reuniu com diversas autoridades para discutir os preparativos da COP30, que será sediada em Belém, no Pará, em 2025. O evento deve reunir entre 40 mil e 70 mil participantes, incluindo chefes de Estado, cientistas, ativistas e representantes do setor privado.
“É uma operação de grande escala, mas temos recebido garantias de que o Brasil está comprometido com a realização da COP30 da melhor forma possível”, afirmou Frumerie.
O governo brasileiro garantiu que a infraestrutura do evento está sendo planejada para atender à alta demanda, incluindo melhorias no transporte e na hospedagem. A conferência será um espaço crucial para discutir o futuro do financiamento climático e estratégias para reduzir os impactos do aquecimento global.
Mesmo sem o apoio oficial dos Estados Unidos, a COP30 promete ser um marco no debate climático global, reforçando a necessidade de acelerar a transição energética.
“O financiamento climático não é caridade. É um investimento no futuro do planeta. A COP30 ocorrerá em Belém, e o compromisso global com o meio ambiente seguirá adiante, independentemente das decisões dos EUA”, finalizou Frumerie.