Drones, mísseis e sabotagens: como Putin atacaria o Reino Unido em uma guerra
Governo britânico anuncia aumento significativo em investimentos militares diante de tensão geopolítica inédita desde a Guerra Fria
Internacional|Do R7

O Reino Unido está preocupado com um possível conflito com a Rússia diante da crescente tensão entre os dois países, alimentada pelo conflito na Ucrânia iniciado em 2022. O governo britânico anunciou uma profunda reavaliação de sua estratégia de defesa, em um documento chamado Revisão Estratégica de Defesa, publicado pelo Ministério da Defesa.
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer alertou para a necessidade de preparar as forças armadas do país para uma possível guerra, ressaltando que o Reino Unido enfrenta a ameaça mais grave desde a Guerra Fria.
Segundo o relatório, em caso de guerra, o Reino Unido poderia ser alvo de uma variedade de ataques, incluindo ofensivas cibernéticas, drones de longo alcance, mísseis de cruzeiro, sabotagens e tentativas de manipulação de informações para desestabilizar a coesão social e a vontade política. Infraestruturas militares e civis críticas, como bases navais em Portsmouth, Plymouth e Clyde, além de instalações nucleares e de energia, estão na mira de possíveis agressões.
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A ameaça também se estende ao domínio marítimo, considerado vulnerável, especialmente pela dependência do país em cabos submarinos que transportam 95% dos dados nacionais e na importação de 46% dos alimentos. O governo enfatizou a necessidade de que a Marinha Real esteja preparada para prevenir incidentes semelhantes ao sabotagem do gasoduto Nord Stream 2 e cortes em cabos submarinos.
O documento destaca a Rússia como uma ameaça “imediata e premente”, mencionando o país 33 vezes ao longo do relatório de 144 páginas. O relatório aponta que a invasão em grande escala da Ucrânia evidenciou a disposição do regime de Vladimir Putin em usar a força para alcançar seus objetivos e reestabelecer zonas de influência, ameaçando a ordem internacional e os interesses britânicos e de seus aliados.
Starmer, no prefácio da revisão, enfatizou que, diante de uma nova era de defesa e segurança, em que a Rússia não apenas conduz guerra no continente europeu, mas também testa as defesas britânicas internamente, o Reino Unido deve enfrentar esse perigo com determinação.
Para responder a esses desafios, o Ministério da Defesa britânico anunciou um investimento de 6 bilhões de libras na produção contínua de munições, incluindo a construção de seis novas fábricas e a aquisição de até 7.000 armas de longo alcance produzidas no Reino Unido. Esse reforço industrial visa resolver a deficiência apontada pela comunidade militar em relação ao estoque limitado de armamentos e munições, evidenciada durante o conflito na Ucrânia.
Além disso, será criado um comando cibernético dedicado a combater ataques diários atribuídos à Rússia contra as redes militares britânicas. Esse novo centro terá funções defensivas e ofensivas, incluindo interferência em sistemas de comando inimigos e neutralização de sinais usados por drones e mísseis.
Starmer revelou planos para expandir significativamente a frota de submarinos nucleares convencionais, com a construção de até 12 novas embarcações, dentro de um investimento estimado em 15 bilhões de libras destinado ao programa de armamento nuclear soberano.
Aumentos orçamentários estão previstos para elevar os gastos com defesa para 2,5% do Produto Interno Bruto até 2027, com meta ambiciosa de chegar a 3% até 2034. Embora o governo reconheça os desafios financeiros dessa elevação, o objetivo é fortalecer as capacidades militares e industriais nacionais, criar milhares de empregos e enviar uma mensagem clara a Moscou.
Starmer reafirmou o compromisso com a aliança da Otan, declarando que o Reino Unido nunca lutará sozinho e que a política de defesa sempre priorizará a cooperação internacional. A movimentação britânica também responde às pressões externas, especialmente do ex-presidente americano Donald Trump, para que os aliados europeus aumentem seus investimentos em segurança diante das crescentes ameaças russas.
O secretário de Defesa britânico, John Healey, destacou que essas medidas representam a maior transformação nas forças armadas britânicas desde o fim da União Soviética, sinalizando uma era de preparação para confrontos complexos em múltiplos domínios — terrestre, aéreo, marítimo e cibernético — diante de um cenário geopolítico incerto e volátil.
Em resposta ao relatório britânico, a Embaixada da Rússia em Londres repudiou as alegações de agressão feitas contra o Kremlin, classificando-as como “mais um ataque retórico antirrusso”. Em comunicado, os diplomatas russos afirmaram não representar ameaça alguma ao Reino Unido, negando quaisquer planos ou intenções agressivas contra o país e seu povo.