Torres pediu ‘apoio logístico’ nas eleições, diz ex-diretor da PRF ao negar direcionamento político
Djairlon Henrique Moura prestou depoimento no STF como testemunha do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro
Brasília|Gabriela Coelho e Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

O delegado e ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Djairlon Henrique Moura, negou nesta terça-feira (27) ter recebido direcionamento político, por parte do então ministro da Justiça Anderson Torres, para guiar ações da corporação durante o segundo turno das eleições de 2022. Ele prestou depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal) como testemunha de defesa do ex-ministro.
Embora seja investigado em outro processo que apura possível obstrução das eleições de 2022, Moura foi mantido como testemunha por decisão do ministro Alexandre de Moraes, que ressaltou o direito do delegado ao silêncio para não produzir provas contra si.
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No depoimento, o ex-diretor afirmou ter participado de uma reunião com Anderson Torres, ainda no período pré-eleitoral, para discutir ações de segurança no pleito, mas afirmou que o objetivo seria reforçar a segurança durante as votações.
“Não se tratou de nenhum plano específico. O que houve foi um pedido do ministro Anderson Torres para que as instituições de segurança ocuem o maior número possível de municípios, com o objetivo de garantir a segurança das eleições”, declarou.
Segundo ele, também foi discutida uma possível cooperação entre a PRF e a Polícia Federal, de forma que a PRF pudesse atuar em regiões onde a PF encontrasse dificuldades operacionais.
“Não houve qualquer direcionamento para regiões específicas, nem solicitação em favor ou contra qualquer candidato”, afirmou Moura. “Não houve sinalização por parte do ministro sobre o número 22”, completou, em referência ao número de urna do então candidato à reeleição, Jair Bolsonaro.
O delegado também foi questionado sobre uma operação da PRF realizada na semana do segundo turno das eleições, voltada ao combate ao transporte irregular de eleitores. Moura explicou que a ação foi motivada por um pedido da Coordenação de Logística Policial (CLP) e contou com informações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
“É comum, em operações desse tipo, que haja cooperação com a inteligência da ANTT para checagem de listas de ageiros. Se houver indícios, deflagramos a operação para verificar se há alguma irregularidade”, disse.
Segundo ele, havia suspeitas de que ageiros estariam sendo transportados irregularmente da região Centro-Oeste para o Nordeste, mas nenhuma infração foi confirmada.
“A operação ocorreu entre os dias 27 de outubro e 2 de novembro. Durante os sete dias de fiscalização, não foi identificado nenhum transporte irregular de eleitores”, afirmou.
Moura destacou que a operação seguiu critérios técnicos, sem interferência externa, e que o objetivo foi coibir o transporte clandestino de ageiros, prática comum em períodos eleitorais.
Segundo as investigações, integrantes da PRF teriam direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no segundo turno.
Outro depoimento
A fala do delegado da PF Caio Rodrigo Pellim, também testemunha de Torres, foi na mesma linha da de Moura.
Pellim afirmou que participou de uma reunião entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2022 com representantes da PRF, da Coordenação de Operações Integradas (Ciop) e de outras forças de segurança.
Segundo ele, o encontro tratou exclusivamente do “reforço do policiamento ostensivo” e da necessidade de “apoio logístico” entre as instituições. Pellim disse que o objetivo era ampliar o efetivo nas ruas e garantir a segurança do pleito, “sem qualquer direcionamento político” ou menção a candidatos.
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