Tarifaço de Trump: mercado de veículos do Brasil vê pontos positivos e negativos
País pode aproveitar taxa menor para tornar indústria de peças mais competitiva, além de abrir novos mercados
Brasília|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília

A pausa no tarifaço do presidente norte-americano, Donald Trump, servirá para que setores da indústria que dependem muito da bilateralidade e a exportação analisem melhor essa nova ordem mundial. É o caso dos setores automotivo e do aço e alumínio brasileiro, que exportaram US$ 1,6 bilhão e US$ 5,2 bilhões, respectivamente, para os Estados Unidos em 2024.
No caso do Brasil, os EUA estabeleceram a menor tarifa, de 10%, além de uma taxa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. O país é o segundo maior parceiro comercial do brasileiro (atrás apenas da China), sendo responsável por US$ 40 bilhões de exportações e importações cada.
Já no último dia 9, Trump suspendeu por 90 dias as taxas superiores a 10% aplicadas em mais de 70 países, com exceção da China, que continua sendo alvo de tarifas elevadas. Além disso, os EUA impam uma alíquota de 25% sobre todos os veículos produzidos fora do país.
Há um primeiro lado positivo. A taxa aplicada para o Brasil é uma das menores. A médio prazo, isso é bom principalmente para o mercado de peças, uma vez que o preço dos produtos brasileiros tendem a ser competitivos em relação aos asiáticos, mexicanos e europeus, que receberam taxas maiores. Analistas apontam que é um ótimo momento para o mercado verde-amarelo se abrir.
Novos mercados
Os especialistas também apontam que as ações do líder republicano forçaram um redirecionamento do comércio internacional.
A professora de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Regiane Bressan explica que a imposição unilateral por parte dos EUA contraria as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), o que acaba enfraquecendo o sistema multilateral do comércio.
“Essa postura protecionista vai levar a retaliação por parte de outros países, o que desencadeia em guerras comerciais e prejudica também o comércio global”, opina.
Bressan diz que as decisões de Trump contribuem para a aproximação de diferentes mercados, como o caso do Brasil e União Europeia. E isso pode ser um segundo lado positivo para o Brasil.
“Eu acho até que há mais chance agora de a União Europeia estar muito aqui presente, e, ao mesmo tempo, de os Estados Unidos evitarem uma polarização direta com o ocidente”, completa.
Em relação ao setor de transporte, a professora entende que as exportações do setor de aviação poderá ser mais impactado do que o automobilístico no Brasil.
“De maneira geral, o mundo inteiro será afetado. Vai ser uma grande movimentação no tabuleiro do comércio internacional e os países terão que fazer novas parcerias. A China está mais presente aqui”, completou.
Deslocamento de investimentos
Por outro lado, Márcio de Lima, que acabou de sair da presidência da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), afirma que o tarifaço de Trump pode forçar um deslocamento de investimentos, inicialmente destinados ao Brasil.
Ele cita o exemplo do México, o maior exportador de carros para os EUA atualmente. Lima diz que os fabricantes, forçados pelas taxas mais alta, tendem a deixar o México e investir mais nos Estados Unidos.
Isso deve gerar uma capacidade ociosa no mercado mexicano. “Essa capacidade ociosa será utilizada para colocar produtos em outros países. E o Brasil e o Mercosul têm acordo de livre comércio com o México”, explica.
Ou seja, na opinião de Lima, investimentos que estão sendo anunciados para o Brasil poderão deixar de ser realizados aqui e serem direcionados para utilizar a capacidade ociosa existente no México. Isso inclui o setor de autopeças e o de produção de veículos.
Tarifaço do Trump: repercussão global - União Europeia
De qualquer forma, a previsão é de que o mercado norte-americano seja mais impactado que qualquer outro, com perdas estimadas em 1 milhão de veículos (de 15,9 milhões para 14,9 milhões), com estimativa de elevação do preço entre US$ 3 mil e US$ 12 mil, aponta a Anfavea.
De forma global, é possível que as tarifas gerem uma queda a da demanda global, afetando o PIB mundial e o mercado de autoveículos, alterando a cadeia logística e causando um redirecionamento das exportações para outros mercados.
Projeto Mover
Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que regulamenta o Mover, programa de mobilidade verde. O texto estabelece critérios técnicos e ambientais de eficiência energética, reciclabilidade e segurança que importadores de veículos e fabricantes devem seguir para comercialização no país, a partir de junho de 2025.
Para integrantes do setor automotivo, a demora na regulamentação do programa era visto como um problema, principalmente devido à falta de previsibilidade e impactos nos investimentos. A sanção da lei ocorreu no ano ado. Agora, houve a regulamentação do programa.
Ele prevê um total de R$ 19,3 bilhões de créditos financeiros entre 2024 e 2028 e pode ser usado pelas empresas para abatimento de impostos federais, em contrapartida a investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento e em novos projetos de produção (leia mais aqui).
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