Motta aposta em redes sociais com linguagem intimista: ‘Dá um Hoogle’
Há uma semana no comando da Câmara, deputado paraibano marca presença nas redes sociais
Brasília|Rute Moraes, do R7, em Brasília

Eleito com 444 votos, o novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), busca fugir do convencional quando o assunto é rede social. Na primeira semana no comando da Casa, ele tem apostado em um perfil mais descontraído nas redes, gravando vídeos com linguagem mais intimista e até mesmo aderindo apenas ao uso de “Hugo”, em vez de Motta, para se aproximar mais do público.
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Assim que foi eleito para presidir a Câmara, Motta publicou um vídeo usando camiseta branca, aparentando estar em casa. Ele agradeceu pelos votos e disse que o espaço das redes estará aberto a sugestões da população.
Depois, outra gravação foi publicada. Nela, Motta explicou como a direita e a esquerda se uniram em prol de sua candidatura. Ele ainda aproveitou a gravação para se apresentar. “Você já foi ao Google pesquisar quem é o Hugo Motta?”, questionou.
Em seguida, o deputado mencionou que, todos os dias, vai se encontrar com os seguidores. “Resolvi criar a minha própria rede social. Bem-vindos ao Hoogle. Dá um Hoogle”, continuou, ao anunciar o quadro fixo de vídeos de seu perfil.
Em outra ocasião, Motta fez uma espécie de “quiz” no “Hoogle”. Ele respondeu à seguinte pergunta: “Hugo Motta é casado?”. O parlamentar, então, respondeu, em tom de brincadeira, que é casado, “muito bem casado”. Em seguida, apresentou a esposa e os dois filhos.
Em outra gravação, o presidente da Câmara apareceu dentro do plenário, esvaziado, explicando as atribuições do posto de presidente da Casa. Ele, então, comparou o cargo dele com o de um maestro de orquestra.
“Ele é o responsável por organizar tudo, coordenar os músicos e garantir uma harmonia perfeita para que a plateia tenha um grande espetáculo. O maestro também precisa dialogar, escutar e conhecer bem os músicos”, disse Motta, enquanto apareciam imagens dele na Câmara e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mais perto da população
Cientista político e doutor em istração pública pela FGV/SP, Leonardo Queiroz Leite diz que a estratégia adotada por Motta ao assumir o comando da Câmara o aproxima da população. Contudo, o especialista explicou ao R7 que a ação também faz parte de uma estratégia de “sobrevivência”, tendo em vista a popularidade e hegemonia das redes.
“Hoje, o debate e o embate político estão nas redes sociais. Então, é uma questão de sobrevivência o político se posicionar nas redes sociais. Talvez se conectar com o eleitorado mais jovem. Ele é um político jovem, mas vem de um grupo tradicional. Ele foi eleito com o apoio do antigo presidente, fruto de um amplo acordo”, disse Leite.
Apesar do perfil de Motta nas redes se diferenciar dos demais presidentes da Câmara, o especialista diz que não se trata de um “grande diferencial”, mas uma “tentativa de se adaptar à nova realidade hoje do debate político, da disputa que ocorre na internet”.
“É um investimento em imagem, em marketing político. As pessoas debatem política e formam opinião, influenciam pelo que está acontecendo na rede social”, continuou o cientista político.
Para Leite, o diferencial de Motta vai se mostrar, de fato, quando ele se posicionar sobre as matérias de “maior importância” para o país.
“Se ele vai praticar o discurso que ele está dizendo, que vai pensar no interesse do país, não vai ficar com polarização de esquerda e direita, ou se isso é só um discurso para pegar bem na rede social, isso é o que de fato vai definir o lugar dele como presidente ou não”, explicou.
Por outro lado, o especialista pontuou que é positivo o fato de Motta ter a preocupação de se posicionar nas redes. “A rede social também tem muita coisa gigantesca de informação sendo manipulada, muita coisa falsa, distorcida. Então, é bom que ele se posicione”, declarou.
“O que ele pensa da proposta do governo da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000? Como ele vai comunicar isso para a faixa de trabalhadores dessa renda, que seria beneficiada com isso, por exemplo? Se ele conseguir trabalhar isso de uma maneira didática, convencendo a população, explicando, apoiando o governo, caso ele se decida por isso, pode ser um exemplo de um bom uso dessa ferramenta, de trazer o bom debate”, concluiu Leite.
Nesta semana, Motta disse ser “simpático” à proposta do governo, mas que a isenção precisa de “equilíbrio para não ter efeito negativo” na economia, pois, do outro lado, há o aumento de impostos para quem recebe acima de R$ 50 mil.